Joalheira, que concebeu troféu da SIC, ofereceu joia a Jane Fonda e fez relicário para Bento XVI.
Tinha 20 anos quando desistiu de Direito. “Não seria advogada. Mas aceitaria Direito Internacional pelas viagens, para fazer coisas lá fora”. Seguiu para ourivesaria. Gostava de trabalhar com as mãos. A genética a funcionar? “O meu pai era escultor [João Charters de Almeida], professor de Belas Artes. Via-o a trabalhar no ateliê, a esculpir barros. A parte artística é natural”.
Foi com dois artistas que Maria João Bahia – a mulher que concebeu o troféu da SIC, para a gala dos Globos de Ouro, em 1996 – aprendeu, em 1981, a arte de ourivesaria: Manuel Alcino, no Porto, e Raul Ferreira, em Lisboa. O estágio prático levou-a, em 1985, a montar a sua oficina na capital.
Um ano depois, já estava a desenvolver uma linha de joias para uma empresa holandesa e criou a coroa da Miss Wonderland. A seguir, vieram muitos troféus ligados a empresas, ao desporto, à gastronomia, ao teatro musical. São 30 anos de carreira que a joalheira se orgulha de recordar, focando-se, agora, na internacionalização da sua marca, com clientes fidelizados e com encomendas, por Internet, da Austrália, Indonésia, EUA, Inglaterra, África do Sul, entre outros.
Anel de noivado
Maria João Bahia, 57 anos, começa cedo a trabalhar no seu ateliê-oficina, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, procurando criar peças de autor “para uma elite de bom gosto”, mas também para os que “querem eternizar momentos”. “Só uma joia serve como referência, como memória”, atalha. E sabe o que diz: o seu anel de pedido de casamento foi feito por si e comprado em segredo pelo marido.
E como é ter noção de que há gente importante com algo feito pelas suas mãos, como é o caso da atriz Jane Fonda, a quem ofereceu uma peça desenhada em exclusivo? Ou de Ramos-Horta, prémio Nobel da Paz , que recebeu obra sua de homenagem? Ou de Bento XVI, Papa que levou um relicário no centenário das aparições em Fátima? Responde a artista: “É um orgulho enorme e muito gratificante”.
Sobre a história dos Globos de Ouro, a joalheira relata que foi o próprio presidente da Impresa, Francisco Pinto Balsemão, que lhe pediu que criasse “uma espécie de Óscares de Hollywood”.
“Foi um prazer criar este troféu. Serve para homenagear o cinema, a moda, personalidades, enfim, quem se destaca em cada área. E é um reconhecimento em vida, que muito me agrada, porque o homenageado pode sentir a gratidão”. E onde se inspirou? “Nos símbolos nacionais, como por exemplo no Padrão das Descobertas”.
Dia 29 de setembro, a SIC volta à gala dos Globos de Ouro. E as réplicas de cada troféu levam uma assinatura. A de Maria João. Há 24 anos.
Fonte: Jornal de Notícias (Agosto, 2019)